Penso que não. Não há milagre, mas sim o fruto dos esforços de uma política constante. As contas públicas de 2017 serão encerradas com um défice de 1,4 % do PIB e um saldo primário muito positivo. Saímos do procedimento por défice excessivo. Reanimámos as exportações, atingimos um crescimento de 2,6 % e reduzimos o desemprego para metade (para 7,8 % em dezembro de 2017, nota do editor). Precisamos agora de manter o rumo.
Sim, sem dúvida, mas soubemos tirar partido disso. Estamos conscientes de um efeito cíclico e temos de nos preparar para o choque de uma eventual mudança de ciclo. É por isso que, a nível europeu, temos de concluir a união monetária. E, a nível nacional, é importante não incorrer em despesas insustentáveis. Por exemplo, os salários dos funcionários públicos portugueses estão congelados desde 2009. Comprometemo-nos a não mexer em nada até 2019, e estamos a cumprir esse compromisso. Até agora, contentámo-nos em fazer recuar muito gradualmente os cortes salariais e de pensões que lhes foram temporariamente aplicados no âmbito da Troika. Não se pode dizer que os portugueses são despesistas. É muito importante não passar a mensagem errada de um regresso aos desequilíbrios do passado recente.
Investimos politicamente na confiança da população e conseguimos reativar a procura interna, mas sem pôr em causa as regras do euro e a pertença à Europa. Não inventámos nada. Estamos simplesmente entre aqueles que acreditam que é errado, do ponto de vista económico, e injusto, do ponto de vista social, tentar equilibrar as contas públicas apenas com base numa política restritiva. Como prova o caso de Portugal, a verdadeira consolidação orçamental só pode ser feita com crescimento. Se promovermos o crescimento económico. Os rendimentos das famílias e as condições de produção das empresas, a procura interna aumenta. Mas isso deve ser feito sem pôr em causa o outro pilar da economia, o crescimento externo.
Concluímos a tarefa mais importante, a do equilíbrio das contas públicas, que é fundamental para todos nós que partilhamos a união monetária. Na frente económica, não tocámos na Lei do Trabalho (Flexibilização) de 2012. Mas introduzimos a nossa própria agenda com reformas na formação profissional e na educação, na capitalização das empresas, no planeamento regional e na redução das desigualdades. É verdade que eliminámos certas medidas do governo anterior, como os cortes nos salários e nas pensões e as taxas adicionais de imposto sobre o rendimento, mas estas eram medidas temporárias e excepcionais e, ao fazê-lo, limitámo-nos a regressar à ordem constitucional.
Para nós, a Europa é o outro nome da democracia em Portugal e o projeto europeu é o único em que queremos participar. Sem sombra de dúvida. Respeitamos as regras da UE e do euro, mesmo que também queiramos trabalhar para as alterar um pouco, como também querem Emmanuel Macron e Angela Merkel, mas sempre fomos claros: não temos outra alternativa que não seja a Europa.
Sim, tivemos de explicar que não éramos extremistas, que nunca poríamos em causa a adesão de Portugal ao núcleo duro da UE. Que se tivéssemos de escolher entre o euro e o destino do governo minoritário do Partido Socialista, não hesitaríamos. Foi esta a mensagem que enviámos aos que estavam preocupados com o nosso pacto com os partidos à esquerda do Partido Socialista.
É o que se diz, e os bons números do turismo demonstram-no. Mas não é tudo. As nossas exportações também estão a crescer na indústria, no sector automóvel, na química e nos transportes. A nossa economia está a mudar, graças ao talento de uma geração altamente qualificada. Atraímos investimentos de qualidade em sectores de ponta, porque somos um país aberto à inovação. Isso é mais importante do que os três números dos indicadores macroeconómicos. Nos últimos meses. Deixámos de discutir com Bruxelas tudo o que não sejam os pormenores minuciosos das nossas previsões de défice estrutural. Isso é tranquilizador!
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