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Eleições de 30 de janeiro: Portugal vai obrigar os fantasmas a votar?

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Durante anos, a culpa foi dos "mortos". Agora, dizem, a culpa parece ser dos emigrantes. O fenómeno dos eleitores fantasma, que este ano são mais de um milhão, distorce os números da abstenção e pode mesmo "falsear" o número de deputados por círculo eleitoral.

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Se vive em Portugal e tem um mínimo de interesse pela vida económica e política do país, sabe que no domingo, dia 30 de janeiro, se realizarão eleições gerais na sequência da dissolução do governo português pelo Presidente da República Portuguesa, Durão Barroso. 5 de novembro de 2021.

Segundo o Diário de Notícias, a culpa é da "negligência" e do apego dos emigrantes à sua terra natal. 

Eleições de 30 de janeiro: Portugal vai obrigar os fantasmas a votar? 

De acordo com Diário de NotíciasDurante anos, a culpa foi dos "mortos". Agora, dizem, a culpa parece ser dos emigrantes. O fenómeno dos eleitores fantasma, que este ano são mais de um milhão, distorce os números da abstenção e pode mesmo "falsear" o número de deputados por círculo eleitoral.

"Falsificam a afluência às urnas", geram "conclusões erradas" e podem "alterar o número de deputados" por círculo eleitoral. Trata-se de um problema antigo, que existe há muito tempo, com "valores particularmente elevados em meados da década de 1990", escreve o DN no seu artigo de 27 de janeiro de 2022.

Nessa altura, "o número de pessoas inscritas nos cadernos eleitorais excedia a população em idade de votar em cerca de 20 %". Desde então, a percentagem diminuiu, mas continua a rondar quase sempre os 10%. É como se pudéssemos retirar "esta incongruência" - "sobrestimação" - dos números da abstenção, e olhar para uma situação mais próxima da realidade: os 51,4% de 2019, por exemplo, seriam apenas 41,4%, os 44,1% de 2015 seriam 34,1%, e os 41,9% de 2011 representariam uma abstenção de 31,9%.

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Fonte: Diário de Notícias

Se recuarmos ao tempo em que os cadernos eleitorais raramente eliminavam os mortos, é possível, dados os números consideráveis detectados nas últimas décadas, olhar para a abstenção de, digamos, 1991 (que foi de 32,6%) e equipará-la a algo próximo ou inferior a 22%. Ou mesmo considerar, sem grande margem de erro, que os 39% de abstenção em 1999 foram apenas 29%, ou até menos.

A maior aproximação ao peso dos eleitores fantasma, calculado para 2022 (1.143.604), pode ser encontrada olhando para os resultados das eleições de 2019: são quase tantos eleitores como aqueles que permitiram ao BE, PCP-PEV, CDS-PP e PAN eleger um total combinado de 40 deputados.

João Tiago Machado, porta-voz da CNE, afirma que "o que justifica este milhão" de eleitores fantasmas (expressão que não lhe agrada) "é o facto de só haver 1,5 milhões de eleitores inscritos no estrangeiro"Quando, de facto, diz ele, "a nossa população na diáspora é bem superior a um milhão e meio". E o que é que isso quer dizer? Significa que uma grande parte da nossa comunidade emigrante continua a usar o seu endereço português para efeitos de registo".

É um apego à terra onde nasci e talvez uma certa insciência, um certo distanciamento do censo", acrescenta.

Na prática", explica. O que acontece é que uma pessoa que vive em Braga, por exemplo, mas que na realidade vive em Paris, quando se bate à porta para o recenseamento ou se envia uma carta, acaba por não aparecer nos registos do recenseamento porque ninguém viveu naquela casa porque a pessoa vive no estrangeiro". 

Esta ausência tem um impacto imediato nos números finais: "A taxa de abstenção está errada. Temos uma margem de 10 % que não existe, que acaba por não ser real porque as pessoas não vivem onde ele diz que vivem. João Tiago Machado considera que esta margem devia ser "retirada das contas", para uma melhor leitura, "para termos uma noção exacta da realidade, um retrato mais fiel".

Para Marina Costa Lobo, Doutora em Ciência Política pela Universidade de Oxford e Investigadora Sénior do Instituto de Ciências Sociais-UL, o que está em causa é "a qualidade da nossa democracia e a perceção errada e distorcida do sentido cívico dos portugueses". Outro alerta é para o facto de esta discrepância poder ter "consequências na distribuição de mandatos por círculos eleitorais e impedir uma discussão séria sobre a reforma do sistema eleitoral".

A consequência é inédita, como salientam os investigadores: uma abstenção distorcida e o verdadeiro problema da representatividade nos círculos eleitorais. Em última análise, a taxa de abstenção é enorme e é suscetível de ter consequências nas eleições de domingo.

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