Nesta manhã de sol, é difícil percorrer a Rua da Prata, no coração de Lisboa. Um grupo de japoneses reformados amontoa-se em frente à montra de uma fábrica de conservas tradicionais, onde as receitas de sardinhas revisitadas são vendidas a preço de saldo.
Do lado oposto, um vendedor de recordações exibe uma coleção de pulseiras de cortiça enquanto um casal que se abraça olha hesitantemente. "Quando nos mudámos para cá, há sete anos, os edifícios estavam a cair aos bocados e eu tinha medo de andar sozinha nas ruas desertas, recorda Ana Santiago, uma das directoras da incubadora Startup Lisboa..
Fundadores de start-ups europeias lutam por um lugar na incubadora Startup Lisboa
Na altura, os cofres da capital portuguesa estavam vazios. O país estava a atravessar uma recessão e sob o jugo de políticas de austeridade. Disposta a fazer tudo para salvar a cidade, a Câmara Municipal criou um centro dedicado às jovens empresas no então decrépito centro da cidade. Foi uma aposta ousada, mas que resultou.
Hoje, as empresas europeias em fase de arranque lutam por um lugar na incubadora, que se estendeu a outros bairros. Entretanto, os turistas afluem às ruas históricas, com o nariz levantado para as fachadas renovadas. "Durante a crise, perdemos tudo, incluindo o nosso medo.diz Ana. Foi isso que nos deu força para nos levantarmos de novo.
Algo mudou em Portugal. E não se deve apenas ao boom do turismo em Lisboa. Nem se deve aos bons números da retoma do crescimento. Em 2017, o produto interno bruto (PIB) registou um crescimento de 2,7 %, o nível mais elevado dos últimos dez anos. A taxa de desemprego desceu abaixo dos 8 %, longe do pico de 17 % atingido em 2013.