Depois de vários avanços e recuos neste domínio, o Governo decidiu acabar com os Vistos Dourados, uma das medidas incluídas no pacote da habitação apresentado no final da reunião do Conselho de Ministros de quinta-feira. Esta medida, que põe fim à concessão de novos "Vistos Gold", insere-se no pilar da luta contra o branqueamento de capitais.
As origens do Golden Visa
O Golden Visa é um programa de residência que foi criado em 2012 em Portugal. Esta iniciativa teve como objetivo atrair investimento estrangeiro para o país em troca de residência para os investidores e suas famílias. Esta residência permite também o livre acesso ao espaço Schengen, o que constitui uma vantagem considerável para os investidores estrangeiros.
O programa Golden Visa foi criado em resposta à crise económica de 2008, que afectou consideravelmente a economia portuguesa. As autoridades portuguesas estavam à procura de novas fontes de financiamento para impulsionar a economia e identificaram os investidores estrangeiros como uma oportunidade. Os benefícios fiscais e o estatuto de residente permanente incentivaram um grande número de investidores estrangeiros a investir no sector imobiliário português, estimulando assim a economia.
Desde a sua criação, o Golden Visa tornou-se um programa muito popular para os investidores estrangeiros. O programa tem sido um sucesso fenomenal, com mais de 7 mil milhões de euros de investimento estrangeiro no país registados desde a sua criação. O Governo português decidiu recentemente prorrogar o programa até 2022, uma vez que continua a dar um contributo significativo para a economia nacional e a incentivar o crescimento económico.
Pontos negativos do Golden Visa
Embora o programa O Golden Visa trouxe muitos benefícios económicos a Portugal, mas também esteve associado a alguns infortúnios. Um dos principais problemas tem sido a subida dos preços do imobiliário, sobretudo nas grandes cidades como Lisboa e Porto, onde os investidores estrangeiros têm comprado imóveis para cumprir os critérios de investimento do programa.
Esta situação conduziu a um aumento dos preços dos imóveis e dificultou o acesso dos residentes locais ao alojamento, nomeadamente nas zonas turísticas. Também levou a uma rápida gentrificação dos bairros históricos, alienando os residentes locais e desnaturando a autenticidade destas zonas.
Além disso, têm-se registado preocupações crescentes quanto à origem dos fundos investidos no âmbito do programa. Os críticos afirmam que este facto abriu a porta à entrada de capitais ilegais, incluindo o branqueamento de capitais, no sistema financeiro português.
Portugal foi colocado na lista negra da União Europeia para 2019 pelo seu alegado envolvimento em actividades de branqueamento de capitais. As autoridades portuguesas têm sido criticadas por não terem controlado suficientemente os fundos investidos ao abrigo do programa Golden Visa.
Em resposta a estas preocupações, o Governo português tomou medidas para reforçar os requisitos de diligência devida e de transparência do programa. Foram adoptadas regras mais rigorosas para garantir que os fundos investidos são legítimos e provêm de fontes verificáveis.
Apesar destas medidas, Portugal continua a enfrentar desafios em termos de branqueamento de capitais, e o programa Golden Visa é frequentemente citado como um exemplo da vulnerabilidade do país aos fluxos financeiros ilícitos.
O fim de um passaporte para a Europa
O Primeiro-Ministro, António CostaNuma conferência de imprensa no final da reunião do Conselho de Ministros de 17 de fevereiro de 2023, o Primeiro-Ministro anunciou que a concessão de novos Vistos Gold iria cessar. Explicou que os Vistos Gold já concedidos se destinavam exclusivamente a investimentos imobiliários e que só haveria lugar a renovação se o imóvel fosse a habitação própria e permanente do proprietário ou dos seus descendentes, ou se o imóvel fosse colocado no mercado de arrendamento a longo prazo.
Na última Web Summit, em novembro de 2022, António Costa admitiu a possibilidade de acabar com o programa Golden Visa. O primeiro-ministro afirmou mesmo que o programa poderia já ter cumprido o seu objetivo. Desde então, foi criado um grupo de trabalho interministerial para estudar o assunto e, na passada quinta-feira, António Costa aludiu a este facto ao assinar um artigo de opinião no Público em que citava o "combate à especulação" como um dos principais eixos do pacote da habitação.
O Primeiro-Ministro tomou também uma decisão importante para ajudar as classes médias. Decidiu afetar 900 milhões de euros para facilitar o acesso à habitação. O mercado de arrendamento está a mudar, especialmente em Lisboa e no Porto, onde o arrendamento turístico deslocou os residentes locais, ocupando uma parte crescente da oferta habitual.
As medidas adoptadas incluem o congelamento licenças (AL) Airbnb, exceto nas zonas rurais, e a renovação de casas devolutas, com o custo coberto pelo governo, para facilitar o seu arrendamento "a um preço razoável". O primeiro-ministro anunciou também subsídios até 200 euros para os inquilinos e incentivos fiscais para o aluguer de longa duração.
Simultaneamente, os pequenos mutuários serão ajudados a fazer face ao aumento dos reembolsos dos empréstimos contraídos a taxas variáveis. A simplificação das licenças de construção e das autorizações para transformar terrenos ou edifícios comerciais em projectos de habitação. Estas medidas deverão ser apresentadas o mais rapidamente possível ao Parlamento, onde o Partido Socialista dispõe de maioria absoluta.
No entanto, o Presidente da República Portuguesa já avisou que recorrerá ao Tribunal Constitucional perante o que considera ser uma violação do direito de propriedade.